Sobre o Projeto Girassóis


Você sabia que: 

No Brasil, 74% dos usuários de medicamentos psiquiátricos são mulheres?
E este percentual é praticamente igual em nível mundial. A Organização Mundial de Saúde (2010) aponta que, dos cerca de 400 milhões de pessoas que sofrem de depressão no mundo, 75% são mulheres. E o pior: isso ocorre devido à situação de maior vulnerabilidade social e das relações desiguais de gênero.
Levando em consideração esta realidade, o Projeto Girassóis – Gênero e Saúde Mental, tem por objetivo capacitar profissionais da rede de atenção do município de Canoas para a implantação de um modelo de atenção à saúde das mulheres, cuja linha de cuidado reconheça e considere as questões de gênero como determinantes do seu sofrimento psíquico. 
Para promover a reflexão dos participantes, que tem como finalidade conscientizar cada um sobre a necessidade de realizar uma escuta, uma atenção mais focada na hora do atendimento às mulheres, coloca em discussão os procedimentos, os manejos, as metodologias de atendimento. Desta forma, promove a ponderação sobre como as políticas de saúde em geral observam e procedem em relação ao adoecimento psíquico das mulheres.
Com esta proposta, o projeto visa contribuir para superar visões e práticas marcadas por discriminações, estereótipos, fragmentação, medicalização excessiva e invisibilidade das interseções que determinam maior vulnerabilidade das mulheres ao adoecimento psíquico, ampliando assim a perspectiva da integralidade na atenção à saúde das mulheres e principalmente daquelas em situação de violência.
Com tal finalidade, o projeto constrói e dissemina novas estratégias e aprimoramento de métodos de cuidado junto aos profissionais ao qual se destina. Além disso, também promove ações educativas em saúde mental junto às usuárias das redes de saúde e rede especializada de atendimento.
O Projeto Girassóis – Gênero e Saúde Mental, é executado pela organização não governamental Coletivo Feminino Plural  e conta com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde e Coordenadoria de Políticas para as Mulheres de Canoas, da Rede Feminista de Saúde e conta como apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.

Ações do Projeto Girassóis: 
Com duração prevista para 18 meses, estão sendo desenvolvidas as seguintes ações:
  • Diagnóstico inicial sobre a operação dos serviços de saúde, segurança e atendimento às mulheres e de como se articulam em rede;
  • Três cursos de capacitação com duração de 60 horas cada, para profissionais das redes de saúde, segurança, assistência e atendimento às mulheres em situação de violência e um seminário reunindo as três turmas; 
  • Ações educativas com usuárias dos sistema Único de saúde e Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência;
  • Estudos de Caso;
  • Materiais comunicacionais e educativos


Por que pensar a saúde mental relacionada a gênero?
O que significa gênero aqui?

*Regina Vargas
Os processos de saúde e doença não se explicam apenas por desajustes biológicos, por um metabolismo desregulado. Saúde e doença não dependem apenas de nosso corpo, mas são resultado de um conjunto de fatores que incluem o ambiente em que vivemos, em seus diferentes aspectos – físicos, sociais e psíquicos – e nossas relações afetivas e de trabalho nesse ambiente, nossos hábitos, alimentação, sono, lazer, práticas corporais etc.

Esses fatores são muito diferentes se você for uma mulher ou um homem; se você for uma pessoa negra, ou branca, ou indígena; se você possui todas as funções motoras e sensoriais ou se é portadora de alguma deficiência; se você é criança, adolescente, jovem, adulta ou idosa...
Se todas essas diferenças entre os seres humanos são importantes como determinantes da saúde, uma delas perpassa e se soma a todas as demais – o sexo.
Ser mulher ou ser homem, em nossa sociedade, para além das diferenças biológicas que marcam as especificidades reprodutivas das mulheres, impõe desigualdades de oportunidades e de responsabilidades–desigualdades no acesso a bens, a renda, a espaços de poder, a tempo de lazer, a liberdade de escolhas...

Se as diferenças biológicas, anatômicas, entre mulheres e homens são naturais, porque nascem conosco; são permanentes, porque se mantêm ao longo de toda a história da humanidade; e são universais, por serem as mesmas em qualquer lugar do mundo, não se pode dizer o mesmo daquilo que é considerado feminino ou masculino.
As diferenças atribuídas aos sexos como características femininas ou masculinas não são naturais – elas são aprendidas ao longo da vida, através da educação e dos costumes, do convívio em sociedade; não são permanentes – elas mudam ao longo do tempo e adaptam-se ao desenvolvimento das sociedades. Também não são universais – cada sociedade tem sua própria noção do que é ser uma mulher feminina ou um homem másculo, que no Brasil é bem diferente do que é na Índia, por exemplo.
São essas diferenças construídas em cada sociedade para homens e mulheres que se denominam diferenças de gênero. O gênero, então, corresponde ao que se considera masculino ou feminino em cada lugar – e que pode não ser o mesmo no sul ou no norte do Brasil.
As diferenças de gênero – que foram construídas ao longo da história da humanidade, especialmente por aqueles que tinham poder e propriedades e que se perpetuaram pela ação das instituições como a escola e a igreja – em geral estabelecem desigualdades entre os sexos que desfavorecem as mulheres. A ideia de que as mulheres pertenceriam unicamente ao espaço privado e estavam destinadas a ser mães e zelar pelos filhos, pelo lar e pelo marido vigorou por muito tempo e ainda é alimentada por alguns grupos da sociedade.
Essa noção ultrapassada da mulher “dona” do lar entra em choque com uma sociedade em que muitas mulheres conquistaram o espaço público, o mercado de trabalho, o acesso à educação, à participação e, algumas, até mesmo ao poder político. O resultado desse choque de uma cultura ultrapassada com um novo modelo de sociedade são pressões e opressão na vida de muitas mulheres que se apresentam de diferentes formas:
  •  Sobrecarga de trabalho – dupla ou tripla jornadas por não conseguir dividir as tarefas domésticas e de cuidado dos filhos e dos idosos
  •  Discriminações de várias ordens – que dificultam o acesso ao trabalho e renda em igualdade de condições com homens
  •  Assédio no trabalho – a condição de mulher muitas vezes impõe às mulheres situações de chantagem e ameaças
  • Violência doméstica – que pode ser psicológica, produzida por humilhações, xingamentos, ofensas ou ameaças, que corroem a autoestima e causam mal-estar; física, quando a violência resulta em ataque corporal; sexual, quando as relações íntimas são contra a vontade da mulher; patrimonial, quando o parceiro apropria-se ou destrói propriedade ou pertences da mulher.
Essas desigualdades produzem mal-estares nas mulheres, que podem ter implicações sérias sobre a sua saúde, causando dores e distúrbios do organismo, ou provocando estados de ansiedade, depressão, pânico e outros, que não podem ser curados com (ou apenas com) medicação, pois sua causa está não no organismo, mas no ambiente e na qualidade de vida dessas mulheres.
Por essa razão, é preciso sempre pensar a saúde, e a saúde mental em particular, de modo integral – a saúde física, a saúde psíquica e as condições de vida de cada pessoa –, para que se possa encontrar, para cada uma, a solução para o seu problema específico, ao invés de simplesmente se medicar seus sintomas.

* Coordenadora do projeto

Equipe:
Coordenação Geral do projeto:
Regina Vargas 
Coordenação Técnica:
Leina Peres Rodrigues
Coordenadora Geral da Coletivo Feminino Plural:
Telia Negrão
Consultoras:
Maria José de Oliveira Araújo – Médica - Consultora – elaboração de conteúdos, monitoramento e avaliação.
Amanda Machado – Socióloga – Consultora em Planejamento.
Teresa Cristina Bruel dos Santos – Psicóloga - Consultora para Estudos de Caso.
Cláudia Sobieski Costa -MTE 17457 - Consultora em Comunicação

Estagiárias:
Carolina Mombach – Psicologia
Jéssica Pereira –  Ciências Sociais

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